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Comunicar para servir: a trajetória das rádios franciscanas em Curitibanos 1t4x1h

07/06/2025

Notícias

70 e 35 anos no ar! O legado das rádios franciscanas que ecoam há décadas

 “Somos vozes franciscanas que, pela escuta e pelo diálogo, semeiam esperança, constroem pontes de paz e mantêm viva a chama da fraternidade em cada coração”, assim afirmou Frei Augusto Luiz Gabriel, Presidente da Fundação Frei Rogério, em Curitibanos (SC), em evento celebrativo de aniversário das rádios. A frase sintetiza o clima de gratidão, emoção e renovação que permeou tanto a celebração litúrgica quanto o ato civil que se seguiu, unindo frades, colaboradores, anunciantes, autoridades e ouvintes em torno de duas marcas históricas: os 70 anos da Rádio Coroado e os 35 anos da Rádio Movimento.

Celebração, gratidão e compromisso

A memória de São Carlos Lwanga e companheiros mártires deu o tom litúrgico à missa realizada na noite de terça-feira, 3 de junho. Na presidência do altar estava Frei Gilson Kammer, Definidor Provincial, ladeado por Frei Augusto (Presidente da Fundação), Frei Alex Sandro Ciarnoski (vice-presidente), Frei Alan Leal de Mattos (diretor assistente), Frei Leandro Costa Santos (coordenador da Frente de Comunicação da Província), Frei Leandro Ferreira Silva (da Fundação Cultural Celinauta de Pato Branco) e demais frades da fraternidade local São Francisco Solano. Em sua homilia, Frei Gilson destacou que a trajetória dos irmãos franciscanos à frente das rádios não se limita à difusão de notícias, mas constitui um verdadeiro “testemunho de fé em ondas sonoras”.

Ele refletiu sobre a leitura de São Paulo, enfatizando que anunciar o Evangelho, seja por pregação ou por meio de um programa radiofônico, significa antecipar, ainda em vida, os sinais da vida eterna. Para ilustrar essa ideia, Frei Gilson lembrou que “toda mensagem que leva o bem ao outro constitui um gesto de amor que faz o Reino de Deus acontecer entre nós”. Em seguida, convidou a comunidade a não se conformar com uma postura iva: viver a “vida eterna” pressupõe ação constante, seja na oração, seja na evangelização pela comunicação. Finalizou ressaltando que, neste ano jubilar, a “escuta ativa” e o “diálogo genuíno” são ferramentas imprescindíveis para que as rádios continuem a semear esperança e “fazer ecoar o Evangelho”.

A metáfora da araucária

Logo após a homilia, coube a Frei Leandro Costa Santos, coordenador da Frente de Comunicação, compartilhar um momento simbólico, revestido de poesia e prospectiva. Emprestando a força da natureza à missão radiofônica, Frei Leandro comparou as emissoras a três araucárias de diferentes idades: os 70 anos da Coroado, os 35 da Movimento e a recente Rádio Frei Galvão, inaugurada neste mesmo ano em Guaratinguetá. Segundo ele, assim como a araucária que, ao amadurecer, explode sua pinha lançando sementes que brotam em outros solos, o trabalho dos frades e colaboradores fez com que a sementeira radiofônica germinasse em diversas regiões, levando a mensagem de paz e bem a quem as ondas alcançam. Destacou, ainda, que a “voz bem falada” não pode ser contida: quando o Evangelho sai do “seu jardim” (Curitibanos) por meio da rádio, suas sementes se espalham para além das montanhas catarinenses, consolidando uma rede de fraternidade em outros lugares.

Ato Civil com colaboradores, anunciantes e autoridades

Na noite do dia 4 de junho, a Fundação Frei Rogério promoveu um encontro voltado aos colaboradores, anunciantes, autoridades locais e convidados, em um ato civil que reforçou a dimensão social e política das emissoras. O expocentro da cidade foi preparado para acolher representantes de empresas, instituições públicas, colaboradores diretos e indiretos, além de membros da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão. O evento foi aberto com a recordação histórica das rádios Coroado e Movimento.

O coordenador da Frente de Comunicação, Frei Leandro Costa, foi o primeiro a discursar e expressou orgulho pelos 70 anos da Rádio Coroado e pelos 35 da Rádio Movimento, ressaltando o papel das emissoras como “pulmões de boa notícia” no planalto catarinense. Ele lembrou que Curitibanos, “no coração do estado”, pulsa diariamente ao som de uma programação que combina informação, cultura, música e espiritualidade. Segundo suas palavras, a rádio não é apenas projeto de frades: “As duas emissoras são maiores do que nós; elas sobrevivem às nossas vontades individuais e criam raízes fortes na comunidade”, afirmou, incentivando anunciantes e parceiros a continuarem investindo em um serviço essencial para o desenvolvimento regional.

Agradecimento do Prefeito Kleberson Luciano Lima

Em seguida, o prefeito Kleberson Luciano Lima destacou que as rádios da Fundação Frei Rogério caminham “lado a lado” com o município desde meados do século XX. Ele lembrou que, em 11 de junho, Curitibanos comemora 156 anos de emancipação política, e que a Rádio Coroado, criada em 1955, fez parte dos primeiros décimos de sua história como cidade. “Não há município forte sem instituições fortes”, afirmou, elogiando a atuação dos frades e das famílias que se dedicaram à emissora. Para o prefeito, o radiojornalismo e a programação religiosa ajudaram a moldar o senso comunitário e a promover o progresso local. Ele também frisou a importância de reconhecimentos públicos, lembrando, com emoção, comunicadores que fizeram e fazem parte dessa trajetória, a exemplo da família Pozo, que empreendeu investimentos decisivos para o crescimento da Coroado.

Mensagem da ACAERT

Pela ACAERT, Neliege Pagnussat Souza enfatizou a relevância das emissoras no contexto catarinense. Ela descreveu a Rádio Coroado como um “santuário da credibilidade e da ética” ao longo de sete décadas e a Rádio Movimento como “o canal que entendeu as necessidades das novas gerações”, mesclando entretenimento, boa música e identidade regional. Sua fala lembrou que, em um cenário de transformações tecnológicas aceleradas, manter a confiança do ouvinte requer perseverança e inovação constante. Por fim, reforçou que as emissoras, ao unir comunidades e fortalecer valores, demonstram como “o rádio bem-feito é uma ferramenta de transformação social”.

Fé e desafios para o futuro

Para encerrar o ciclo de pronunciamentos, o Presidente da Fundação Frei Rogério, Frei Augusto Luiz Gabriel, proferiu um discurso e contextualizou o legado das rádios como instrumentos de evangelização e serviço social.

Nas primeiras linhas, relembrou que a Rádio Coroado surgiu em 1955 como “voz que consolava famílias e alimentava esperanças” em uma época em que a região serrana vivia desafios econômicos e isolamentos físicos. Destacou que, ao longo dos anos, surgiram nomes representativos, tais como Frei Edmundo Piechoczek, Frei Eliseu Tambosi e Frei Lindolfo Jasper, cujas vozes ecoaram conforto e incentivo ao catolicismo popular. Comentou também a criação, em 1990, da Rádio Movimento, destinada a dialogar com jovens e adultos, incorporando inovações tecnológicas sem perder o espírito franciscano. Lembrou, ainda, a migração da Rádio Coroado Am para a frequência FM, em 2017, como um “salto que ampliou horizontes e fortaleceu vínculos com as comunidades”.

Frei Augusto destacou, em seguida, três pilares essenciais para a “comunicação franciscana” nos dias de hoje. (1) Escuta ativa: uma interlocução que requer empatia e atenção às dores alheias; (2) Diálogo genuíno: encontro de corações que valoriza experiências diversas; e (3) esperança solidária: atitude de quem deseja curar feridas sociais por meio de gestos concretos e narrativas inspiradoras. Ao apresentar esses três pontos, recordou que não basta simplesmente transmitir notícias: “É preciso que cada boletim, cada programa e cada entrevista refletem o cuidado de quem quer anunciar a paz e o bem”, comentou.

Por fim, agradeceu aos colaboradores, frades, anunciantes e ouvintes, lembrando que, sem cada um deles, o projeto não sobreviveria ao ar dos anos. Concluiu com votos de longevidade: “Que possamos, juntos, escrever novos capítulos, mantendo viva a chama da fraternidade em cada coração. Eis o desafio que nos move, continuar sendo vozes que anunciam o Evangelho por meio do rádio”, afirmou, recebendo aplausos prolongados.

Lançamento do Vídeo Institucional e confraternização

Ao término dos discursos, foi exibido o vídeo institucional que reuniu imagens históricas das emissoras: desde o rádio valvulado dos anos 1950 até as transmissões em FM e a chegada da Rádio Frei Galvão em 2025. O material valorizou a história e fez memória de momentos marcantes.

Na sequência, os presentes entoaram os parabéns e Frei Alan Leal de Mattos agradeceu a todos os envolvidos nesta trajetória. Em seguida, conduziu uma oração e bênção. O jantar serviu como espaço de confraternização entre frades, comunicadores, anunciantes e ouvintes, em um ambiente de calor humano e troca de testemunhos. Como ponto alto da festividade, a dupla de irmãs Thaina e Thairine Azzolini, da Família Azzolini, subiu ao palco e encantou a todos com canções em diversos estilos – italiano, gaúcho, religioso e sertanejo raiz -, demonstrando que a arte musical segue interligada aos ideais de comunhão e cultura que o rádio sempre buscou propagar.

Memórias dos ouvintes: vozes que ecoam no tempo


Ao comentar as homenagens prestadas, Leila Denise, disse que “a rádio acolhe como quem recebe um abraço materno” – uma síntese perfeita do que a Fundação Frei Rogério construiu ao longo de sete décadas: um espaço comunitário, onde se entrelaçam espiritualidade, informação e cultura. E, assim como uma araucária frondosa espalha suas pinhas ao vento, a história da Coroado e da Movimento continua a brotar em novos corações, multiplicando a chama franciscana e levando adiante a missão de anunciar, pelas ondas sonoras, um mundo mais fraterno e solidário.

Leila compartilhou memórias preciosas de sua infância, revelando como a Rádio Coroado se entrelaçou ao cotidiano das famílias curitibanenses. Ela lembrou que, em sua infância, o slogan da Rádio Coroado era “Quem não vive pra servir, não serve pra viver.” Ela não se recorda exatamente quando o mote mudou, mas associou a nova frase “Quem nasce pra servir já nasce grande” ao período em que Frei Eliseu Tambosi esteve à frente da Fundação em 1990.

“Roda de Chimarrão” como ritual matinal. Antes de ir à escola, Leila fazia questão de ouvir o programa “Roda de Chimarrão”, apresentado na época por Ubiraja Mello. Em sua casa, o rádio era ligado assim que todos acordavam, especialmente para ouvir os anúncios de falecimentos. “Na ausência de internet, era ali que sabíamos, com urgência, quando alguém da comunidade partira. O rádio avisava em tempo real, e muitas famílias dependiam desse meio para acompanhar notícias familiares”.

Leila recordou ainda que até meados de 1982 ou 1983, era comum que, por volta das 9 horas, alguém na rádio anunciasse os nascimentos do dia, informando o nome da mãe, sexo do bebê, horário e peso. “Lembro de minha mãe contar que aguardava ansiosa por esses relatos, pois era uma forma de celebrar a vida e compartilhar a alegria na comunidade”.

Além disso, ela recordou que quando faleceu o Frei Narciso Pollmeier, em um dia de ordenação sacerdotal na paróquia, tocou-se o sino com badaladas que se distinguiam da rotina. “Era costume: quando o sino tocava repetidas vezes sem motivo aparente, todos ligavam o rádio esperando um anúncio importante. Naquele momento, a Rádio Coroado anunciou o falecimento de Frei Narciso, unindo simultaneamente a tradição do sino e a força da palavra falada”.

Uma das lembranças mais antigas de Leila remonta ao tempo em que ela ainda era bebê. A mãe, temendo deixá-la sozinha no berço, colocava o rádio próximo a ela para que a menina ficasse “tranquila, possivelmente achando que havia alguém falando com ela”. “São tantas memórias atreladas ao rádio que fica difícil escolher a mais marcante. Para minha família, o rádio sempre foi muito mais que um aparelho: era presença constante, conforto e conexão com a comunidade”, relatou.

Um marco de memória e renovação

Os dias 3 e 4 de junho de 2025 ficarão marcados não apenas pelos números – 70 anos de história para a Rádio Coroado e 35 para a Rádio Movimento -, mas pelo refrigério de uma missão que se renova a cada entoar de “Paz e Bem”. As celebrações consolidaram o entendimento de que uma emissora de rádio não é mera tecnologia, mas um organismo vivo, alimentado pela fé, pela arte, pela notícia e pelo compromisso social.

Em tempos em que as mídias digitais ganham cada vez mais espaço, o exemplo dessas emissoras reforça que o rádio – quando exercido com ética, escuta ativa e esperança – mantém a força de reunir gerações, de transmitir valores e de ajudar a construir pontes entre a tradição e a inovação. Hoje, Curitibanos celebra não apenas datas, mas a continuidade de um legado que, iniciado em 1955 e reforçado em 1990, se fortalece em 2025 com a certeza de que comunicar é antes de tudo servir – e servir, para a Fundação Frei Rogério, significa permanecer fiel ao sonho de ser “voz franciscana que comunica a paz e o bem” até onde alcançar a próxima onda sonora.


Frei Augusto Luiz Gabriel (texto) Frei Gilberto Silva (fotos da missa), Carlos Suzuki (fotos do evento social)